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O agronegócio e o mercado financeiro.

Uma das maiores contradições do mercado financeiro brasileiro atualmente é o seu distanciamento do agronegócio. Como pode um setor que representa um terço do PIB brasileiro, é líder mundial em alguns mercados e responsável pela produção de itens essenciais à sociedade, como alimentos e energia, proporcionalmente, ser um dos menos privilegiados pelo mercado financeiro?

A resposta está na análise do histórico dos financiamentos ao agronegócio. Desde o início dos programas de direcionamento do crédito (tais como o crédito rural) até as operações de crédito estruturadas nos últimos anos, a experiência de financiamento ao agronegócio, no geral, causa desconforto para os investidores. O principal motivo é o passado de inadimplência e atrasos nos pagamentos desse setor.

No entanto, as experiências negativas devem ser entendidas como uma evolução natural do relacionamento entre o mercado financeiro e o agronegócio. Assim como já ocorreu com outros setores da nossa economia, inclusive o imobiliário que, atualmente, é considerado um mercado altamente atrativo), os problemas do passado serviram para provocar mudanças estruturais no agronegócio e na sua forma de financiamento, aumentando o profissionalismo de seus tomadores.

Nessa linha, nota-se que passada a última crise mundial, os setores do agronegócio que mais apresentaram inadimplência foram os que, recentemente, mais se consolidaram, representando um verdadeiro processo de seleção natural das empresas do agronegócio.

Hoje, no país, apesar de o agronegócio não ser o foco principal de investimento, acredita-se que o mercado financeiro voltará a financiá-lo em níveis superiores aos atuais. Além da importância do setor para o Brasil, tem crescido o apetite de investidores pela aquisição dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), informalmente denominados “CRIs do agronegócio”.

O CRA foi criado pela Lei 11.076/2004, de forma a permitir operações de securitização ao agronegócio em modelos semelhantes aos praticados no mercado imobiliário via emissão de CRIs. Atualmente, o volume de emissões desse título ainda é baixo se comparado às emissões de CRI, dado que a primeira emissão de CRA foi realizada em 2009. No entanto, as emissões de CRAs de 2011 já somam volume equivalente ao do ano de 2010.

Além disso, os CRAs vêm garantindo estruturas mais profissionais ao financiamento do agronegócio, assim como os CRIs fizeram pelo setor imobiliário após a sua utilização em larga escala pelo mercado financeiro.

Sobre as principais características positivas desse tipo de operação, vale ressaltar duas coisas. A primeira: são operações estruturadas por companhias securitizadoras. De maneira geral, elas são especializadas em financiamento ao agronegócio. A segunda é que fornecem transparência para os tomadores dos CRAs, tendo em vista que os lastros das operações são totalmente identificados e que as securitizadoras são companhias abertas registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Por fim, a terceira é que apresentam estruturas semelhantes às dos CRIs, inclusive no que se refere à segregação patrimonial via instituição de regime fiduciário, o que facilita o entendimento dessas operações pelos investidores e pelo mercado em geral.